quarta-feira, 9 de março de 2011

Prazer, sou Sibila!

Olhando pela abertura de minha caverna, analiso minha existência... Sim moro numa caverna. Por que não moraria?
 Um lugar que sempre impôs respeito causou medos insondáveis.  Com o tempo isso me divertiu. Depois causou tristeza e depois mais nada. Mas não se  enganem. Tenho todos os recursos que uma senhora de milhares de anos poderia ter. Tenho desde a rede até o melhor dos perfumes.  Velha, mas ainda assim mulher. Risos...
 Pois bem quem não conhece ainda a estória de Sibila?
 Aquela por quem o Deus Apolo se apaixonou e prometeu um presente?
 Aquela que loucamente pediu ao Deus que lhe descem tantos anos quantos grãos de areia houvesse em suas mãos?
 Não poderia jamais imaginar que Eros estava junto a mim, ou sua flecha de ponta chumbada.
 O que me causou o desamor com Apolo.
 E Apolo apesar de sua beleza  divina me causou  indiferença. E ele se irritou. Ah como se irritou! Um deus novamente ser rejeitado por uma simples “mortalzinha” como eu!

Poderia ter  pedido a imortalidade. Mas sabem como funciona a  cabeça de uma moça bonitinha e cheia de ambição?
Nunca me achei tão poderosa assim.  Nunca mais que as outras. Mas para a época eu sabia usar minha beleza a meu favor. Bem... achava que soubesse.
Até me deparar com o Deus. Por que não cedi a seus caprichos... Por que não sabia de seu destino!
Nem pena senti. Apenas o recusei.  O beijei mas recusei sexo com ele.  Jovem tola que era!
Eu recusei a Apolo!   
Primeiro conselho: Nunca o recusem! Ele sabe se irritar como poucos!
Por isso hoje me escondo de todos... Uma mortalzinha de alguns milhares de anos impossíveis de serem contados. E não os contei.
Arrasto-me por vezes pelo mundo dos sonhos, onde consigo de alguma maneira voltar a ser a mesma  por quem Apolo se apaixonou. Nos sonhos o deus vem me buscar e amar.  Oh ele é bom! Mas ao acordar sinto apenas menos dores da idade.
Mas apesar de minha aparência um tanto. “senhora”, não se engane: Sou a Sibila que já ouviram falar. A mesma  que foi oráculo em Roma. A mesma que tantas desgraças viu e profetizou.
Sou Sibila e isso deveria bastar.
Mas o mundo esquece-se dos que realmente contam... Meus dons oculares são mais que lenda. São reais. São tão atuais quanto o foram a milhares de anos. O que eu falar através dos ventos se dará. O que vejo é mais que certo. Acontecerá com a ajuda dos Deuses ou não. Leio o destino de homens e deuses como nenhuma  outra. Parte de meu acordo com Apolo. Se quiserem assim pensar... Minha gruta tem frestas, basta terem de coragem de tentar ouvir os muitos segredos que profetizo. Basta conseguirem entender
Tarquino tentou negociar comigo. O futuro de Roma. Achou caro o meu preço. Queimei três livros. E mantive o preço inicial, ele tentou negociar e queimei mais três. Finalmente ele pagou o preço dos nove e levou apenas três. Claudio veio incógnito me visitar e o saudei como merecia. Como o imperador que era. Tibério  também o fez.
 Assim o é. Vejo o mundo em sua  glória ou seu terror. Quem se atreve a vir me ouvir hoje em dia?
 Quem poderá  ouvir-me?
 Só adentrem meu mundo se assim  tiverem prontos para receber minhas palavras. Os farei pensar e talvez até mesmo me odiar. Mas falarei apenas a verdade. Nada fará diferença. Amem-me ou odeiem. Mas assim será. Conheço a emoção humana. Sou  como vocês. Apenas muito mais velha.
Meus sorrisos aos medrosos e meu olhar aos corajosos

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