Conversei muito com Pan nessa noite. Aliás, ele dorme logo ali depois de ter entornado algumas muitas garrafas do meu melhor vinho. Sim sou Sibila uma das amadas de Apolo e meu preço é alto demais para alguns. Para outros nem tanto... Me arrasto sonhando e chamando o único deus que teve meu coração. Mas o único de quem realmente tive medo. O deus de beleza impar. O mais perfeito. Apolo perfeito em toda a extensão de sua divindade.
Quantas vezes o chamei em silencio esperando que venha me dar hoje apenas um sorriso? Quantas vezes nesses anos o observei?
Centímetro por centímetro.
Sim a sua maneira ele ainda me ama.
Ama a mulher que ainda sou escondida nas rugas do tempo.
Envergonho-me a cada encontro. Arrependo-me a cada encontro. Como não, se ele tão lindo e tão perfeito. Quando me visita em sonhos me faz a moça que um dia fui?
Aquela que Apolo um dia amou. Aquela que por medo de tua beleza e graça se negou a ele.
Por que os medos são sempre maiores que a vontade de viver o que realmente queremos? Minha culpa.
Eu tive medo. Medo de me perder em tanta felicidade. Medo de recomeçar uma vida que até a chegada de Apolo simplesmente era. Nada demais. O normal. Acordar e dormir como todos.
E Apolo me deu a escolha. Viver por ele e com ele ou viver a seu modo. Jamais esperei virar lenda ou mito. Mas seria isso, se fosse um dos seus amores.
Não quis. Não quis receber o que ele me dava pelo tempo que ele quisesse. Quis me garantir sozinha.
Olha só. Uma mulher castigada pelo tempo e esquecida por ele.Quase lenda já. Não posso ver o fim de minha existência. São contados em grãos de areia os meus anos.
Até quando pagarei por me recusar a ser feliz nos braços amorosos de um deus?
Até quando ele ainda lembrara-se de mim?
Olho a Pan e me entristeço com sua historia.
Ele nunca foi belo como Apolo, mas seu coração sempre foi um dos mais lindos e justos que tive a honra de conhecer.
Sempre foi amigo dos animais, deus dos pastores, mas isso de ter tanto de Dionísio, o fez sonhar, o fez quase conhecer a loucura do querer. Fez exatamente ao contrario de mim. Ele foi a busca de seu amor. Mas a aparência também aqui pesou. Pan ainda tem seu amor feito flauta... Ela, Sirinix uma ninfa que de tanto medo dele e de sua feiúra se fez um simples bambu. Pan não duvidou, o cortou e fez dela, sua flauta. E ela está com ele. Por isso sua musica encanta. Ela toca a historia de um amor verdadeiro. Um amor acima de qualquer aparência. O amor de Pan. Ele gera temor e medo entre muitos. Mas é ainda o protetor, o bom amigo. Um companheiro. Verdadeiro acima de tudo. Digam-me a justiça das senhoras do destino pode aqui ser julgado?
Não creio. Nem os próprios deuses podem algo fazer! Se assim o fosse o que conhecem como mundo já não mais existiria.
O assunto veio a ser um: Medos.
Medos de Sibila, de Ninfas, e dos homens. Medo da entrega e da felicidade.
Não nos entregamos.
Preferimos definhar sozinhos a uma entrega absoluta e verdadeira.
Covardes perante a vida e aos deuses. Pagamos exatamente a moeda que queremos. Covardia de tentar ser feliz é a pior delas. Não se atenta contra aos deuses somente. Ela atenta contra nós mesmos. Pois somos gostemos ou não, parte deles. Sempre e para sempre.
Respondam-me são divagações de uma velha bruxa? Ou ainda temos medos de responder, uma vez que o medo da vida aqui sempre superou qualquer outro, mas não os escondeu.
Pan é feliz... Mesmo com todas as falhas em sua feiúra, ELE CONSEGUIU. Perseguiu um de seu amores e com ele está. Mesmo que não seja o que pensou. Ninfa tola! Mas com certeza foi o que quis. A diferença entre ele e eu:
Ele arriscou.